* Rodrigo Cogo
Que tipo de líder está sendo requisitado pelas organizações? Como fazer a gestão do capital intelectual, o ativo considerado mais importante da atualidade na longevidade das empresas? Com estas duas questões teve início a segunda reunião do Comitê de Desenvolvimento Profissional da ABERJE – reunindo as Associações Brasileiras de Comunicação Empresarial, Branding e Comunicação Organizacional - no dia 1 de outubro de 2008 na Casa do Saber em São Paulo/SP. Estiveram presentes para repasse de experiências Olinta Cardoso, diretora de Comunicação Institucional da Vale, e Alfredo José Assumpção, presidente da FESA Global Recruiters.
Representando uma consultoria com 90 funcionários e que, em 13 anos, fez a contratação de mais de 800 altos executivos dentro de uma rede internacional, o presidente da FESA Global Recruiters, Alfredo Assumpção, falou sobre a trilogia do bem, integrada por ser, fazer e saber. Ele, que é economista pela Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro e pós-graduado em Desenvolvimento de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas e Master of Arts em Gerência de Recursos Humanos pela Pacific Western University, indica um caminho de equilíbrio e complementaridade entre a essência, o resultado e a personalidade, derivando daí respectivamente o espírito, o corpo e a alma de cada profissional e da própria organização. Cada passo executado precisa partir do trinômio, em que o espírito é a visão, a missão e a estratégia da empresa, a alma são as crenças, atitudes e valores e o corpo constitui-se dos processos, da produção e do comportamento. O líder moderno precisa juntar os três elos com consciência, curtindo o presente e não agindo de maneira robotizada, automatizada. “E assim cumprir um papel de fomentador e multiplicador do bem em nível planetário”, completa.
O maior contingente de líderes no mundo está nas empresas, superando outros momentos em que houve supremacia de igrejas, governos ou quartéis. Daí que o papel da iniciativa privada acaba sendo maior como inspiração. Com a experiência de ter sido, em abril de 2008, escolhido pela revista Business Week como um dos mais influentes headhunters do planeta, além de ter sido homenageado com a Comenda Presidente Juscelino Kubitschek pelo Governo de Minas Gerais pelos serviços prestados ao país, Assumpção alerta que “o homem precisa de três alimentos: a comida, o ar e as impressões coletadas do ambiente, e isto deve movê-lo. A idéia básica é ser feliz, e sem isto é que temos guerra, terrorismo e fome”. Esta capacidade adaptativa é um dos grandes trunfos dos executivos brasileiros, na opinião do especialista, até por seu perfil bastante miscigenado e apto a transitar em diferentes culturas. “Há uma valorização da mobilidade dos executivos numa dimensão internacional. O ser humano atinge a centralidade das estratégias”, enfatiza ele.
A atração e retenção de funcionários hoje já são atitudes vistas como preponderantes até para agregar valor às ações em bolsa. Todavia, este espírito de “vestir a camisa” é cada vez mais difícil de alcançar, sendo muito importante o desenvolvimento de amplos programas de comunicação interna e de cultura organizacional. Percebe-se que os profissionais gerenciam suas carreiras com maior desprendimento em relação a seus empregadores, facilitando a migração para outros negócios. Para quem estiver pensando em distribuir currículos, ele diz que não se deve entregá-los em locais não filiados à AESC, um organismo mundial que estabelece direitos e deveres do candidato, da consultoria e do contratante. “Quem não for, desconfie”, destaca.
TRAJETÓRIA – A relações públicas Olinta Cardoso, atualmente diretora de Comunicação Institucional da Vale, participou da etapa da reunião relativa ao relato de trajetória. Com a satisfação de dizer que está “no melhor lugar que um profissional de comunicação poderia estar”, ela contudo não deixou de citar os desafios do início do trabalho. Mais que isto, do próprio convencimento da família, no sul de Minas Gerais em cidade de economia rural de 27 mil habitantes, onde os irmãos haviam seguido carreiras tradicionais como Direito, Medicina e Engenharia. Ela fez um resgate das suas inquietações, que envolviam até mesmo a manutenção de sua estada na capital Belo Horizonte para os estudos dependendo da opção de carreira. Numa retrospectiva, comenta que o fato de vir de uma família numerosa acabou exigindo habilidade para sociabilizar, ai acrescido do viés político e comunitário que era forte entre seus parentes. Começou a trabalhar em 1991 como analista de Comunicação da Samarco Mineração em Mariana/MG, onde obteve uma formação de valores empresariais. Por sua atuação lá, ganhou uma honraria estadual, momento em que os pais conseguiram compreender o valor de sua opção por RP. Na mesma empresa, obteve um suporte determinante do presidente, reorientando suas carências e diferenciais para melhor encaminhamento dos seus passos profissionais. Hoje, já com pós-graduação em Comunicação e Gestão Empresarial e especialização em Gestão de Pessoas e há seis anos na Vale, Olinta não hesita em posicionar a comunicação como fundamental na leitura do mundo. “Se ficarmos no corporativo determinando diretrizes e controles, vamos perder a importância de vivenciar a diversidade cultural”, aponta.
Ela conta que aprendeu a comunicação de um ponto-de-vista sociológico e antropológico, para justamente poder entender o ambiente e as relações entre as pessoas e os grupos. Neste sentido, afirma que a teoria é prioridade no trabalho cotidiano, como forma de fazer uma sintonia sobre o estar no mundo. E complementa: “temos que aprender com a vida, mas também na formalidade, com embasamento teórico para sustentar nossas ações”. E diz isto com a tranqüilidade de quem mantém um MBA em Comunicação Empresarial exclusivo para a equipe, mantido com a PUC-MG, afora uma especialização em Gestão de Territórios com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, exatamente para entender os impactos da mineração nas localidades. Além disto, foi criado um café da manhã com a equipe do setor para falar sobre a vida de cada um, e não sobre o trabalho e a profissão, como proposta de humanização e crescimento intelectual e social.
Estando em uma empresa que vai abrir 65 mil novos postos de trabalho até 2012, fica evidente o tamanho dos desafios. E a executiva enfrenta todos eles, sobremaneira com uma postura de buscar inovação e de aplicar otimismo em suas ações. A parte da internacionalização é um capítulo importante, porque ela vê um obstáculo ainda maior para as empresas nacionais, dado que além de promover sua própria imagem, têm que vencer o desconhecimento e os preconceitos relativos ao Brasil. Além disto, empresas como a Vale ainda trazem o estigma de ter origem estatal e toda a carga de percepções vinculada a isto. Destacando que responsabilidade social é algo muito além que um arranjo entre departamentos, sendo isto sim atitude e ação, ela finaliza: “sempre acho que temos algo bom para fazer neste mundo. As organizações são seres vivos, e não pode ser vista como um peso. O papel da comunicação é fazer a construção desta consciência”.
* Texto especial para o Oras Blog!, com cobertura do RP Rodrigo Cogo – Conrerp SP/PR 3674 -
Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas
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