* Rodrigo Cogo
A recência do trato do tema “sustentabilidade” tem causado confusões terminológicas e diferenças de foco nas ações, misturando responsabilidade social, empreendedorismo social, marketing social, responsabilidade ambiental e outras combinações. De toda maneira, a discussão é mesmo urgente, dada a elevação na demanda por energia, o aumento da descarga de gás carbônico e a aceleração no contingente populacional. Estas foram as primeiras argumentações do CEO do Ibope Inteligência, Nelsom Marangoni, em painel realizado no Fórum Abracom de Comunicação Empresarial. Ele detalhou resultados de pesquisa do instituto.
Negócios sustentáveis trazem embutida a capacidade de continuidade a longo prazo, comprometidos com valores éticos. Incorporam um pensamento sistêmico, porque significa utilizar recursos hoje que não interfiram no mesmo uso por gerações futuras, pensando em vários elementos: tecnologia, recursos humanos, inovação, conhecimento, resultados, produtos diferenciados e também responsabilidade sócio-ambiental. Sob esta perspectiva, Marangoni disse que 79% dos executivos já ouviram falar no conceito de sustentabilidade, sendo que o ligam somente a questões sociais e ambientais. Já os cidadãos privilegiam aspectos de confiabilidade, solidez e qualidade de produto, mostrando a dissonância.
Cerca de 46% dos empresários diz ter políticas formais na área, com 37% deles possuindo um comitê gestor interno. Contudo, a incorporação efetiva do conceito em ações do ponto-de-vista estratégico é mais baixa. Vê-se caridade e filantropia organizada, ligando-se a ações de marketing ou altruísmo, mas menos investimento planejado com sinergia ao negócio. “O grande risco é a busca do lucro imediato, colocando em conflito a sustentabilidade a lucratividade. Mas elas não são incompatíveis”, assinala. O predomínio do pensamento financeiro seria um dos obstáculos à real implantação do planejamento na área.
Entre as motivações das empresas pra aplicar tempo e recursos em sustentabilidade, estão agregar valor à imagem (31%), consciência de fazer algo pela sociedade (13%), aproveitamento de isenções tributárias (9%) e sentimento de cobrança da sociedade (7%). Talvez por isto a desconfiança de 46% dos cidadãos que interpretam iniciativas sustentáveis como algo muito mais ligado à auto-promoção, até porque o aspecto estratégico mostra-se realmente bem frágil quando se fala, por exemplo, em não utilizar fornecedores sem certificações de exploração de mão-de-obra ou de origem de matérias-primas. Neste caso, as pessoas em geral não são diferentes: não vêem importância no combate à pirataria, no descarte de pilhas, na separação do lixo e na preferência por empresas sustentáveis. “É preciso ter internamente um valor forte para originar uma ação sustentável, de sentir-se no ecossistema para sentir-se responsável com respeito pelo outro, o que se obtém com informação e valores pessoais para chegar na motivação e na ação”, assinala ele.
Campanhas educativas para haver esta assimilação são justificadas porque entre os fatores de dificuldade estão o tempo e os meios facilitadores. Marangoni explica: como os efeitos nocivos não são imediatos na maioria dos casos, é mais complicado atingir a consciência das pessoas, e pior ainda quando mudanças de comportamento são estabelecidas mas não há apoio ao indivíduo para a continuidade, como no caso da separação de lixo individual, mas sem coleta seletiva pelo Poder Público. A pesquisa ainda conseguiu apontar a expectativa futuro dos executivos para o comportamento dos cidadãos, como o aumento da denúncia contra a corrupção e a gradativa valorização de produtos sustentáveis, ainda que reconheça a prevalência do binômio produto-preço.
* Texto especial para o Oras Blog! com cobertura do Relações Públicas Rodrigo Cogo - Conrerp SP/PR 3674 - Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas
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