* Rodrigo Cogo
Um único evento que ofereça seis conferências internacionais e duas nacionais, uma entrega de prêmio, 28 palestras temáticas simultâneas, 10 workshops e uma feira expositora é um imenso desafio. E para todos. Afinal, um menu tão diversificado de opções às vezes leva o participante a uma permanente sensação de estar perdendo alguma parte, além de exigir um ajuste fino na equipe organizadora para etapas tão cronometradas.
O 11. Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, promovido pela Mega Brasil Comunicação entre os dias 14 e 16 de maio no Centro de Convenções Rebouças em São Paulo/SP, com o tema central “A Era Digital e a nova face da Comunicação”, saiu com saldo positivo confirmado em pesquisa junto aos mais de 700 inscritos: assuntos, palestrantes, caráter inovador e outros quesitos foram muito bem avaliados em percentuais acima de 70%. Para além de qualquer unanimidade, o que interessa mesmo é a aprendizagem teórica e a aplicabilidade, então o esforço de reportar tamanha carga informativa começa aqui.
A desconfiança pública nas ações institucionais em geral e o aumento na expectativa das pessoas frente à intervenção privada nos problemas sociais configuram a realidade sobre a qual as organizações e seus comunicadores precisam trabalhar. Com a experiência de estar num grupo presente em 34 países com 97 mil funcionários, a presidente da Fundação Alcoa, Meg McDonald, deu partida ao congresso tratando das empresas e comunidades em um compromisso pelo crescimento sustentável. No setor de negócio da empresa, ela diz que tudo parte da excelência ambiental (redução de emissões, tratamento de resíduos) para só depois se pensar em execução de projetos. A construção da confiança acontece por meio da confirmação de atuação responsável em três frentes: comunidade (de entorno, grupos sociais de pressão, universidades, investidores), sociedade e funcionários e parceiros. Estes últimos são considerados “embaixadores” da empresa. “Ö engajamento da equipe é a parte crítica da jornada de sustentabilidade”, assinala.
Já foram US$ 14 milhões aplicados desde 2001 em 28 países, sendo R$ 85 milhões investidos em mais de 1500 ações no Brasil. Meg aponta que a participação das gerências locais, com íntima e ativa relação comunitária, é a base da gestão da int erface externa, e não com porta-vozes institucionais que não mantém contato cotidiano com as comunidades. Outro trunfo descoberto pela empresa é o voluntariado, em que equipes de cinco ou mais funcionários envolvem-se em entidades durante meio turno e a empresa investe US$ 3 mil no projeto escolhido. A noção de comunidade de interesse não é mais regulada pela proximidade física, porque as redes sociais trouxeram uma nova conformação. Através delas se vê que a complexidade das expectativas tem aumentado, porque as partes interessadas mudam sob vários prismas e com maior freqüência, sendo imprescindível detectar essas alterações culturais, econômicas e relacionais.
Cada proposição de aumento de planta industrial acontece por meio de oficinas de integração com as cidades, havendo ainda um foco maior e uma imersão na fábrica para líderes de opinião. A idéia, segundo a executiva, é mostrar como o desenvolvimento da empresa é um catalizador para o crescimento de todos, com esclarecimentos em um espaço de diálogo institucionalizado e relevante.
Há, a partir disto, a formação de um comitê sustentável com representantes da iniciativa privada e do Poder Público impactados com a obra e a operação futura. “Ainda assim, não podemos nos centrar somente em regras, mas sim nos basear num conjunto de princípios e valores que norteia e organiza as ações de todos a partir da empresa”, destaca. Por isto, a empresa não conta somente com profissionais de Relações Públicas e de relações corporativas para executar a
interface com os públicos. Esta é uma função compartilhada.
REDES SOCIAIS Oportunidades e ameaças estão no caminho das empresas nas redes sociais. Alan Oshiki, diretor geral da agência Brodgate de New York, procurou enumerar cada parte. As redes apresentam características fortes, como o imediatismo, a fragmentação e a contribuição coletiva na geração de conhecimento. Daí que se percebe a impossibilidade de controle editorial e
se compreende sua alta repercussão. “Elas permitem feedback imediato aos erros de marketing e também agregam propaganda adicional e gratuita. Não subestimem o poder das redes sociais, as insiram em seus planejamentos de comunicação”, alerta.
Só o monitoramento destes canais não é suficiente na opinião do empresário, porque o mais importante seria antecipar ameaças que causem comentários e movimentos contrários e questionadores. Além disto, não se sabe qual plataforma será relevante e duradoura para cada empresa, o que poderia facilitar abordagens, e a efemeridade prevalece.
FERRAMENTAS Décio Manso, da BoxNet, deixou a platéia perplexa e silenciosa. Apesar dos serviços da empresa, integrante do grupo Maxpress, já estarem sendo oferecidos há relativo tempo, parece que muitos comunicadores não estão integrados com as ferramentas de gestão do conhecimento. Sua palestra sobre planejamento, organização e gestão de presença na mídia esteve centrada na administração competente de informação que subsidia a tomada de decisões, com aumento de sensibilidade e de percepção sobre o ambiente a partir de dados que clarificam as tensões e as tendências. Tudo parte do mesmo ciclo: monitoramento, gestão (transformação da matéria-prima em informação), conhecimento e decisão.
A vigilância de dados em determinados espaços e canais sobre certo conteúdo num dado espaço de tempo promove um amplo levantamento. São marcas (nomes de pessoas, de empresas), temas, personagens (articulistas, jornalistas, produtores de conteúdo), produtos, legislação, concorrentes, obtidos por cidade, percentual populacional, países e idiomas, em tempo real, periódico ou em horários predeterminados por conteúdo e mídia, afora uma série de outros
cruzamentos. “Mas a riqueza da inteligência é transformar informação em conhecimento, convertendo conteúdos coletados em algo utilizável com valor agregado”, orienta.
Aí entra também a indexação para permitir rápida pesquisa e interconexão. Na área pública, Manso exemplifica o caso de eleição para governador em que atingiu o requinte de dividir dados por análise (ataque, comentário, elogio, promessa) e por fonte (citação, entrevista, matéria), além de outras divisões mais corriqueiras como veículos e região. Quando o político eleito solicitou um apanhado de promessas feitas, este conteúdo foi entregue algumas horas depois em DVD separando vídeos, áudios e clippings digitalizados, ainda setorizados por assunto (cultura, saúde, segurança, educação e outros). Até mesmo ondas de repetição de cobertura são monitoradas, quando fatos sazonais podem repetir-se e novamente movimentar a mídia (racionamento de água e luz no verão, doenças respiratórias no inverno), sendo que relatórios de comportamento e estilo de matérias por veículo e jornalista do ano anterior são entregues para tomada de precauções e fornecimento de dados. “É um modelo que pretende canalizar as informações de interesse dos gestores, com a percepção correta dos cenários para chegar nas decisões mais precisas”, finaliza.
* Texto especial para o Oras Blog!, com cobertura do RP Rodrigo Cogo - Conrerp SP/PR: 3674 - Gerenciador do Portal Mundo das Relações Públicas.
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