terça-feira, 14 de setembro de 2010

Comunicação interna enfrenta desafio de divulgar valores e estratégias


* Rodrigo Cogo

Fica cada vez mais distante o cenário onde setores de comunicação interna de organizações eram simples atendentes de demandas de outras áreas, em processos pontuais de transmissão de informação no ambiente de trabalho. Com um renovado status de consultoria estratégica, as equipes agora estão empenhadas na difícil tarefa de comunicar valores e promover um alinhamento verdadeiro de expectativas e discursos. Numa época em que as pessoas lutam cada vez mais por seus direitos e pelo pleno atendimento de suas demandas, dentro e fora do universo profissional, vê-se o grande desafio que há pela frente. Esta pode ser uma das conclusões diante das realidades de mais de 18 organizações nacionais e multinacionais presentes na 4ª edição da Conferência de Comunicação Interna da International Quality and Productivity Center/IQPC. O evento aconteceu nos dias 24 a 26 de agosto de 2010 no Blue Tree Faria Lima em São Paulo/SP, reunindo cerca de 100 participantes de vários locais do país.

Carmem Murara, gerente de Comunicação Institucional da Rede Paranaense de Comunicação/RPC, falou do desenvolvimento e implementação de plano de estruturação da área de comunicação com base nos conceitos de missão, visão e estratégias empresariais. Para ela, o trabalho envolve uma ênfase na visão humanística, com a convicção de que a personalidade pode e deve ser continuamente aperfeiçoada como perspectiva da busca da excelência humana e do desenvolvimento de uma postura mais solidária e menos individualista. Até o final de 2008, apesar de representar uma empresa de comunicações, não existia o setor formalmente na estrutura, apenas como um grupo multissetorial voluntário formado por jornalistas e com enfoque transmissor de novidades ou “furos”, sem o embasamento institucional progressivamente requisitado. Além disto, Carmem entende que este profissional não tem no DNA os processos necessários de gestão, para além das técnicas comunicacionais. E foi com esta perspectiva que a gerência foi estruturada dentro da Diretoria de Marketing Corporativo, pensando em informar, envolver, engajar e reconhecer, numa integralidade de intenções que viabiliza a satisfação.

Mas claro que todas as incumbências não cabem à Comunicação como departamento formal. A ideia é incentivar uma liderança colaborativa que acabe facilitando o alinhamento de princípios. Para tanto, a base está no estímulo ao diálogo e o foco está na conquista do colaborador como defensor da marca. O desafio era sair da compreensão de divulgador de notícias para disseminador de estratégias, mudando do caráter reativo para uma ação proativa e focada no planejamento. “Não é ser entregador de produtos, mas sim ser proponente de relações”, arremata. Afinal, há um ciclo de valor a ser considerado, onde satisfação dos colaboradores gera produtividade e dá resultados ao negócio, com influência na fidelidade e lealdade do cliente externo. O trabalho enfatiza o funcionário como um agente de mudanças, ativo na geração, recebimento e difusão de informações. A intenção a longo prazo é criar a percepção de marca, onde a comunicação interna procura ficar na interface entre o nível empresarial e o nível pessoal-humano de cada membro. A gerente entende que o sucesso também depende do nível de envolvimento do CEO, porque é preciso persistência para quebrar paradigmas, ao mesmo tempo em que transmitir e comunicar valores e a cultura depende do empenho deste comando.

Os desafios na francesa Saint-Gobain Abrasivos também são grandes. A coordenadora de Treinamento e Desenvolvimento Cinthia Escudero e a analista de Comunicação Interna Natália Gobbo comentam a dificuldade de apropriação pelo funcionário quando sua produção não é visível e não tem conhecimento público, como no caso dos abrasivos. Há uma dificuldade de criar valor porque, embora sejam feitos mais de 10 mil itens distintos, quase sempre este resultado do trabalho está incorporado em produtos de outras empresas. Em 2009 especialmente, devido à crise nas vendas e às consequências imediatas de corte de pessoas, diminuição de salários e redução de jornada, tudo se acirrou quanto ao trabalho sobre auto-estima e motivação. Foi criado um Comitê de Comunicação Integrada para dar suporte à equipe de três pessoas na área formal de Comunicação, tendo sido nomeados correspondentes em cada unidade, chamados de Focas (Foco em Comunicação Aberta). Uma das primeiras estratégias foi criar uma campanha interna de apresentação de cada bem produzido, sempre estrelada por algum membro da equipe de cada fase produtiva. O esclarecimento de setores internos ainda foi buscado com visitações a fábricas, com uma estrutura de atendimento que envolvia entrega de camisetas, brindes e certificados, conduzida pelo Gerente Industrial. O programa Crescendo e Integrando fez a relação da empresa com filhos de funcionários, com palestras, animação com personagem e almoço com os pais no refeitório, viabilizando um conhecimento mais detalhado do ambiente de trabalho.

Foram testados ainda novos formatos de interação, como um relatório social para fixar internamente a relevância comunitária da organização, o Café com a Diretoria para aproximação e uma campanha de coleta e divulgação de histórias de vida ligadas à empresa. Fortalecimento da presença e da força mobilizadora do gestor foi outra ação, adotando uma postura de transparência em todos os atos administrativos. Buscando efeito integrador, foram criados o Coral CantAbrasivos, o Dia da Responsabilidade Social com ações diversas escolhidas em cada unidade, e o Clube da Melhoria com incentivo à proposição de ideias.

ON E OFF LINE - Na Brasilprev, são cinco frentes de trabalho para comunicação interna: mídias, comunicação face-a-face, campanhas sociais, ações em datas especiais e festas tradicionais. Na empresa, comunicação e estratégia andam juntos numa Superintendência. A gerente de Comunicação Cinthia Spanó falou sobre vários canais em operação, e suas remodelações frente a uma nova dinâmica e perfil dos colaboradores, e demonstrou a importância de um encontro presencial, que dura quatro horas e é multitemático, como formato mais eficiente para alinhamento da estratégia com diferentes níveis da equipe. Há algumas atrações acessórias para garantir atenção, como um talk-show com Sergio Groismann e show do Nando Reis, ou então um game liderado pela Família Schürmann para falar sobre trabalho em equipe ou esquetes e uso de aparelhos para votações instantâneas. O projeto Gestão 100% também tem este propósito, com apresentação pelo presidente da empresa em sessões mensais de 30 minutos sobre assuntos mais relevantes. Ela mostrou vários índices de satisfação de funcionários com a comunicação, em seus meios e processos de interface, e manifestou o entendimento de que a comunicação informal pode ser uma oportunidade, e não somente crise como comumente interpretado.

Para dar um contraponto, mostrando a complexidade sobre a determinação de formas de contato com o público interno, a communication manager da consultoria Ernst&Young, Rejane Rodrigues, falou especificamente de um projeto de captação de candidatos para programa de trainee 2010, baseado na internet. Lá, a comunicação interna começou como área integrada ao setor de Comunicação e Gestão de Marca, na ideia de alcançar uma unidade de discurso e alinhar identidade e imagem. Aliás, é exatamente o estilo da equipe que tem levado à remodelação dos canais, com planos editoriais melhor estabelecidos e que viabilizem uma comunicação de mão-dupla num enfoque colaborativo. O perfil mais escolarizado só reforça o afastamento da visão sobre as pessoas como agentes passivos ou acríticos. A empresa mantém uma universidade corporativa de êxito, a ponto de ser atrativo para novos talentos, e “se somos uma empresa de inteligência, precisamos prezar isto”, reforça Rejane. A Campanha Fator Y foi feita nas redes sociais e por um hotsite agregador, disponibilizando conteúdos na linguagem audiovisual e com contação de histórias dos líderes atuais ou sócios que tenham iniciado como estagiários. Foram 71 mil visitas e 13 mil seguidores no Twitter para 350 vagas, tendo rendido mais de 60 reportagens em meios convencionais de comunicação.


* Texto especial para o Oras Blog! do RP Rodrigo Cogo – Conrerp SP/PR 3674 - Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas.

2 comentários:

Alexandre disse...

Rodrigo,

Sempre um bom texto e uma boa reflexão.
Abraços,
@alexandre_amc

Marcia Ceschini disse...

Professor,

O Rodrigo manda muito bem mesmo.
Abraços